17/02/2025

Lançamento | Almoço no Jardim, primeira peça de teatro de Marco Buzetto


Almoço no jardim
tem o fim em si, tal como a vida do protagonista, Diógenes, o cínico da vida burguesa – no mais popular do termo –, que se esforça para ter certeza do que diz e vencer a hostilidade do ambiente sacerdótico do deus dinheiro. Para Diógenes de Oliveira, o monopólio da felicidade de seus amigos, além do acúmulo de um sentimento de opulência, cria a falta de toda alegria do lado de fora dos portões. 

O casal de anfitriões, Alberto e Beatriz, celebra a riqueza presenteando seus convidados com o tradicional banquete aos domingos em um oásis entre concreto e asfalto e grandes janelas de vidro que cercam seu paraíso urbano, uma vitrine das conquistas dos escolhidos. Não se compadecem ou se incomodam com os olhares curiosos e famintos que espiam entre as grades do grande portão de ferro fundido, olhares cotidianamente acusados por Diógenes, que faz questão de apontá-los ao dono da casa. A contragosto do patrão, os olhares comem os restos e as migalhas permitidos a eles apenas por estarem do lado de fora – mas sob controle de Alberto que detém cada vez mais os recursos ao redor e diz que tudo dentro de seus portões pertence a ele.

Beatriz exalta sua opulência em forma de comida à mesa, descrição dos sabores e efusividade em falar de cada prato servido e seu paladar, e deixa claro o aumento de seu poder quando novos empregados surgem no decorrer das cenas, pessoas da rua engolidas pelo portão em que eles mesmos se apoiam buscando alento, um portão que é ele mesmo uma personagem viva que se move para dentro e para fora devorando corpos, objetos e terreno. Nenhuma riqueza das personagens tem sua origem revelada, a exceção da de Natasha, esposa de Diógenes, que confessa ter seu pai como provedor da herança, transferida pelo patriarcado a seu esposo. O dinheiro de Charles, o pastor esposo de Rita, é ampliado pela dedicada exploração da fé acusada por Diógenes, amigo de longa data que com ele resgata a memória violenta de uma festa de Natal que situa o pastor na persecução da realidade a que se habituou, recusando-se a ser ele próprio um “menino de rua”. 

Como boa esposa defensora da imagem e dos símbolos, Rita articula o assassinato de Diógenes pelas mãos de sua esposa, movida pelo ciúme de uma vida que, tendo existido, teria a excluído da realidade: a união de Charles e Natasha que nunca acontecera. Ao lado de Beatriz, influencia a todo custo o envenenamento pelo sempre presente “copo meio cheio”. Diógenes aceita seu destino e se dedica aos goles, um após o outro, dos copos cheios que o ambiente lhe proporciona, tragando o prazer e o sabor do Tempo que se aproxima a cada gole.

Ele, O Tempo, a deusa-menina, rompe a barreira do real na visão de Diógenes e – sob a tutela da Narradora – se apresenta a ele impondo sua condição: O Tempo é o grande deus e tudo nele existe, tudo escorre por entre seus dedos que criam e encerram a vida como uma criança brincando com argila e gargalhando seus feitos vendo tudo ao redor se dissipar.

Compre com o autor via Instagram, pelo formulário ao lado ou no site da Livraria Martins Fontes Paulista em ALMOÇO NO JARDIM.

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