Em nenhum outro momento da história brasileira se viu um combate tão
ferrenho e grotesco contra a Educação (enquanto instituição) e os professores
(enquanto classe proletária). Os atuais cortes de (ainda) 30% para as
universidades, as ações do Ministério da Educação na breve gestão do colombiano
Ricardo Vélez Rodríguez e da atual gestão Abraham Weintraub, ambos seguidores
do astrólogo de extrema-direita autoproclamado filósofo [racista e eugenista],
Olavo de Carvalho; os ataques diários aos professores por parte do ministro
Weintraub, mas, principalmente, do atual presidente Jair Bolsonaro e seus
filhos, além de outros deputados e senadores que seguem seus fetiches e que
transformam seus discursos em uma verdadeira “caça às bruxas” contra a intelectualidade,
além da tentativa de perseguição tarada à questão
Paulo Freire em ser patrono da Educação brasileira [Lembrando: Paulo Freire
(1921-1997) fora reconhecido como Patrono da Educação Brasileira no ano de
2012, quinze anos após sua morte. Seu reconhecimento internacional se dá pela
dedicação à alfabetização e a Educação como um todo, principalmente junto às
camadas mais pobres das sociedades].
O que se consegue com os discursos contraproducentes do presidente e seus
aliados contra a Educação é criar uma cisão generalizada na sociedade contra os
professores, dividindo a população entre quem reconhece e aceita e quem não
reconhece e não aceita a importância, a dedicação e o trabalho dos professores.
Grande parte dessa “indisposição” contra os professores por uma parcela da
sociedade já se constatava desde sempre,
mas, por pessoas frustradas com a própria educação, por não terem conseguido se
destacar intelectualmente, por terem sofrido traumas dos mais variados no
ambiente escolar, por notas baixas ou, também, por mera antipatia que sentiam
por esse ou aquele professor ou professora em sua época de escola. Há também
quem se voltou contra a Educação e seus professores por não ter conseguido
avançar em seus estudos, não conseguindo entrar em cursos superiores ou
técnicos, culpando as escolas por suas frustrações (e ignoram tantos outros fatores
que os impediram, principalmente o econômico/desemprego, que são variáveis de
tempos em tempos). Tudo isso reflete, em partes, nesse sentimento de
indisposição contra a Educação que vemos desde muito tempo. Contudo, não
existia um combate sistemático contra a Educação, mas sim, apenas os sentimentos
de pessoas que, compreensivamente, se voltavam contra a Educação por meras
questões pessoais – das quais elas próprias possuem consciência, podendo até,
de certo modo, “culpar” a Educação, mas nunca combatendo-a, pois reconheciam
sua importância.
Entretanto, vemos em 2019 um combate oficializado contra a Educação por vias
do atual Governo. Perseguição constante aos professores de maneira verbal e
física (presencial), pois, sabem que os professores – se, e somente se,
quiserem – podem transformar a sociedade e levar o pensamento crítico aos
indivíduos. A desculpa desta campanha do atual presidente e seus sectários contra
os professores é que os profissionais da Educação são doutrinadores militantes
de Esquerda, e que tudo o que fazem é ensinar (o que o Governo Bolsonaro chama
de) marxismo cultural. No entanto, esse Governo não se presta a ensinar o que
seria esse marxismo cultural, quem foi Karl Marx e o que é Esquerda ou Direita
(para ficar somente neste maniqueísmo), condenando tudo como “comunismo” ou “socialismo”,
como se fazia nas décadas de 1920, 30 e 40, e durante os 46 anos de Guerra
Fria, num saudosismo militante que beira o ridículo pelos “anos dourados” de
Ditadura Militar no Brasil (1964-1985).
O que se vê, então, é uma simples e total manipulação de seus
seguidores/eleitores para que reproduzam seu discurso incoerente e raso, e para
que combatam, eles mesmos, a Educação e seus professores. Pois, quando
questionados sobre o que é Esquerda, marxismo, comunismo, entre outros
discursos vomitados por eles em reprodução da fala de seu presidente, estas
pessoas fazem o que o próprio presidente faz, tendo aprendido com seu guru
Olavo de Carvalho, que é meramente se enfurecerem, xingando e agredindo o
interlocutor para fugirem do debate. Enquanto isso, na contramão de seu
discurso contra uma suposta doutrinação esquerdista, o próprio Governo
Bolsonaro e seus mandatários criam uma leva de seguidores alienados e
doutrinados sem nenhum pensamento crítico e reflexivo, e comumente sem nenhum
escrúpulo. Todavia, felizmente e a bem da verdade, vemos muitas pessoas,
conscientes do erro, se manifestando contra o presidente e seu Governo, pois
compreenderam a incoerência de seus discursos e ações contra a sociedade e o
mal que estão causando ao Brasil (de repercussão internacional, inclusive).
Eu gostaria, também, de questionar: entre as classes sociais, qual aquela
que prega esta luta contra a Educação e os professores? Seriam as camadas
pobres e sem oportunidade, ou aqueles que tiveram oportunidade de estarem
dentro das escolas, que saíram das mesmas sem conseguirem o que queriam e se
frustraram? Seria o pobre que luta diariamente por dias melhores e melhores
condições de vida, ou aquele que simplesmente ignora a existência alheia e se,
frustrado consigo mesmo, prega o ódio contra a Educação e a sociedade na qual
não consegue se inserir?
Ainda sobre a Educação, o combate às Universidades e Sistemas de Ensino
por parte do Governo Bolsonaro e o ministro Weintraub se dão por claros e
expostos motivos ideológicos: alunos fazem uma manifestação contra o Governo ou
parte dele, e são sumariamente censurados e sua universidade, de imediato,
recebe uma punição de corte de verba. Foi o que houve com as universidades de
Santa Maria, da Bahia e do Paraná, que receberam corte de 30% em seu orçamento
(por motivos ideológicos do Governo). Após as repercussões negativas, para não
confessar sua perseguição ideológica, Bolsonaro/Weintraub resolve cortar 30% de
todas as universidades e instituições de ensino superior, com a desculpa esfarrapada
de que, palavras de Weintraub “pelo preço de 1 aluno da universidade, eu ponho
10 crianças na creche”; sendo essa desculpa uma tradição de quem quer cortar
gastos nas IES (Instituições de Ensino Superior). Os eleitores e alienados do
presidente aplaudiram, condenando ainda mais as áreas de Humanas das
universidades, repetindo, ruminantemente, que as áreas de Sociologia e
Filosofia (idem História) não são necessárias, pois se tem que investir no
Ensino Básico. Porém, vejamos os cortes do Governo Bolsonaro para este ano (que
já estão sendo feitos):
Cortes* na Educação:
39% de corte do orçamento para Educação Básica;
34% de corte do orçamento para Institutos Federais (que tomam conta,
também, da Educação Básica e Ensino Médio);
25% de corte do orçamento para Universidades Federais;
20% de corte do orçamento para o FIES;
12% de corte do orçamento para os Hospitais Universitários (que atendem a
população pobre, incluindo atendimentos odontológicos, tratamentos para quem
não possui plano de saúde, hospitais veterinários etc.);
13% de corte do orçamento para a CAPES;
*Para
fontes, basta fazer uma pesquisa na Internet sobre Corte Orçamentário na
Educação. Você encontrará inúmeras cartas/notas de universidades que sofreram
cortes, além de fontes do próprio Governo quanto aos cortes na Educação, Defesa,
Transportes etc.
Notou que o maior corte faz parte, exatamente, da Educação Básica? Os
cortes nas outras áreas também são devastadores para cada uma delas (pois já
são reduzidos), mas vê-se que a desculpa de Bolsonaro/Weintraub em cortar do
Ensino Superior para investir no Ensino Básico é tão somente uma grande
mentira. Mesmo assim (e sem informação e com muita preguiça cega) os ruminantes
aplaudem.
Mas, voltemos à questão do desrespeito e desmoralização sistemática do Governo
Bolsonaro para com os professores.
Nas escolas públicas existe um clima de “descontrole” (não em todas as
escolas) sobre os alunos. Um descontrole, porém, natural, e que segue as
transformações também naturais da sociedade. O comportamento externo dos alunos
se reflete no ambiente interno das instituições de ensino. Me refiro às escolas
públicas de Ensino Fundamental e Médio (mas não somente). Quem leciona em
escolas públicas sabe quais são os dilemas diários, os conflitos entre alunos,
professores, coordenadores, gestores, diretorias de ensino e secretarias.
Existem lutas diárias entre todos os “poderes” dentro de uma escola, e também
muita (muita mesmo) autocensura por parte de todos, que têm receio de,
simplesmente, conversar sobre assuntos políticos, mesmo que afetem a realidade
de seu trabalho e a vida de seus alunos. Muitos professores se omitem e/ou se
escondem de discussões mais aprofundadas dentro das salas de professores, com
receio de gerarem um clima ruim ou simplesmente por não conhecerem o que está
acontecendo fora dos muros da escola ou das paredes de suas casas. Ao contrário
do que imagina, muito fantasiosamente, o Governo Bolsonaro, não existe um
discurso unificado entre docentes. Pois, se existisse, a realidade política
atual seria outra. Infelizmente, os professores de maneira geral não se reconhecem
e não se assumem enquanto classe trabalhadora, não percebem que fazem parte do
proletariado (mesmo de maneira intelectualizada), e muitos dão as costas às
suas responsabilidades enquanto professores e professoras. Mas este também é um
problema social, assim como dos alunos e pais, pois até mesmo os professores se
sentem desgastados com o dia a dia estafante das aulas, muitos deles cumprindo
três turnos de trabalho, lidando com alunos desrespeitosos, entre outros, em ambientes
insalubres (tendo que se revezar entre trabalho, estudos, casa etc., como todo
profissional). É de se compreender, então, que muitos professores não tenham
mais tanta disposição para lutar por seus direitos e pela própria identidade
enquanto professores, reproduzindo também alguns discursos contra si próprios
de forma alienada.
Muitos alunos e pais também deixaram de reconhecer os professores como
trabalhadores de grande importância social, além da própria importância educativa.
E este é um processo de desvalorização não somente dos professores e da Escola,
mas referente às instituições como um todo, que perdem o respeito da sociedade
que não mais as reconhecem como importantes: seja a Escola, as Famílias, as
Igrejas, a Política, a Cultura, o Esporte etc. (todos enquanto instituição).
É natural, então, que existam conflitos diários e insatisfações quanto à
Educação, interna e externamente. Entretanto, não podemos, enquanto sociedade,
indivíduos, alunos e professores, permitir que um Governo institucionalize o
desrespeito para com os professores e a Educação. É extremamente perigoso que o
Governo torne legítimo, pois parte dele, os ataques e perseguições aos
professores. Fazendo isso, difamando cotidianamente os profissionais da
Educação, Bolsonaro cria nada mais que um abismo na sociedade: de um lado,
pessoas que se importam com a Educação e lutam por uma sociedade melhor independentemente
de fatores partidários, e de outro, pessoas que reproduzem discursos rasos de
ódio contra os professores (e que ganham cada vez mais espaço, por sua
boçalidade). Eu gostaria, porém, de convidar todos estes que discursam contra os
professores a passarem três dias lecionando e conhecerem a realidade das
escolas. Tenho certeza de que não dariam conta de, sequer, realizarem a chamada.
É extremamente necessária a reanálise quanto ao que é um(a) Professor(a),
qual sua significação, sua importância – principalmente na atualidade –, e esta
reanálise também individual por parte dos próprios professores, para que voltem
a se valorizar enquanto classe trabalhadora e para que tenham forças para
mostrar seu valor à sociedade. É preciso que as escolas voltem a se tornar
ambientes de discussão sobre assuntos sociais, que envolvem, obviamente, a
Política, pois as escolas são o grande ambiente pelo o qual passa toda a sociedade;
é um grande ambiente canalizador que precisa ser utilizado para transformar, e
não apenas reproduzir conteúdos vindos do topo (topo esse que pretende implodir
a Educação).
Concluindo, assim como não se pode permitir um Governo racista,
homofóbico, sexista, religioso, não se pode, igualmente, permitir que este mesmo
Governo institucionalize o preconceito contra os professores e a própria
Educação. O sucateamento da Educação por parte do Governo pretende duas coisas:
impedir a sociedade de buscar conhecimento e, principalmente, destruir o
Sistema Público para vender os heróis da privatização e/ou militarização das Escolas.
É preciso lutar pela valorização da Educação e dos profissionais da Educação, dos
gestores aos professores, passando pela faxineira à merendeira chegando aos
alunos e à sociedade como um todo.
Enquanto isso, ruminantes alienados criam calos nas mãos aplaudindo a
destruição da sociedade como se todos eles fossem grandes investidores da bolsa
de valores, olhando para os seus pratos de galinha assada e copos de sidra com
a ilusão de comerem faisão regados à champagne.
Prof. Marco Buzetto | 04 de maio de 2019
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