04/05/2019

O combate oficial contra a Educação e os Professores no Brasil de 2019


Em nenhum outro momento da história brasileira se viu um combate tão ferrenho e grotesco contra a Educação (enquanto instituição) e os professores (enquanto classe proletária). Os atuais cortes de (ainda) 30% para as universidades, as ações do Ministério da Educação na breve gestão do colombiano Ricardo Vélez Rodríguez e da atual gestão Abraham Weintraub, ambos seguidores do astrólogo de extrema-direita autoproclamado filósofo [racista e eugenista], Olavo de Carvalho; os ataques diários aos professores por parte do ministro Weintraub, mas, principalmente, do atual presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, além de outros deputados e senadores que seguem seus fetiches e que transformam seus discursos em uma verdadeira “caça às bruxas” contra a intelectualidade, além da tentativa de perseguição tarada à questão Paulo Freire em ser patrono da Educação brasileira [Lembrando: Paulo Freire (1921-1997) fora reconhecido como Patrono da Educação Brasileira no ano de 2012, quinze anos após sua morte. Seu reconhecimento internacional se dá pela dedicação à alfabetização e a Educação como um todo, principalmente junto às camadas mais pobres das sociedades].
O que se consegue com os discursos contraproducentes do presidente e seus aliados contra a Educação é criar uma cisão generalizada na sociedade contra os professores, dividindo a população entre quem reconhece e aceita e quem não reconhece e não aceita a importância, a dedicação e o trabalho dos professores.

Grande parte dessa “indisposição” contra os professores por uma parcela da  sociedade já se constatava desde sempre, mas, por pessoas frustradas com a própria educação, por não terem conseguido se destacar intelectualmente, por terem sofrido traumas dos mais variados no ambiente escolar, por notas baixas ou, também, por mera antipatia que sentiam por esse ou aquele professor ou professora em sua época de escola. Há também quem se voltou contra a Educação e seus professores por não ter conseguido avançar em seus estudos, não conseguindo entrar em cursos superiores ou técnicos, culpando as escolas por suas frustrações (e ignoram tantos outros fatores que os impediram, principalmente o econômico/desemprego, que são variáveis de tempos em tempos). Tudo isso reflete, em partes, nesse sentimento de indisposição contra a Educação que vemos desde muito tempo. Contudo, não existia um combate sistemático contra a Educação, mas sim, apenas os sentimentos de pessoas que, compreensivamente, se voltavam contra a Educação por meras questões pessoais – das quais elas próprias possuem consciência, podendo até, de certo modo, “culpar” a Educação, mas nunca combatendo-a, pois reconheciam sua importância.


Entretanto, vemos em 2019 um combate oficializado contra a Educação por vias do atual Governo. Perseguição constante aos professores de maneira verbal e física (presencial), pois, sabem que os professores – se, e somente se, quiserem – podem transformar a sociedade e levar o pensamento crítico aos indivíduos. A desculpa desta campanha do atual presidente e seus sectários contra os professores é que os profissionais da Educação são doutrinadores militantes de Esquerda, e que tudo o que fazem é ensinar (o que o Governo Bolsonaro chama de) marxismo cultural. No entanto, esse Governo não se presta a ensinar o que seria esse marxismo cultural, quem foi Karl Marx e o que é Esquerda ou Direita (para ficar somente neste maniqueísmo), condenando tudo como “comunismo” ou “socialismo”, como se fazia nas décadas de 1920, 30 e 40, e durante os 46 anos de Guerra Fria, num saudosismo militante que beira o ridículo pelos “anos dourados” de Ditadura Militar no Brasil (1964-1985).

O que se vê, então, é uma simples e total manipulação de seus seguidores/eleitores para que reproduzam seu discurso incoerente e raso, e para que combatam, eles mesmos, a Educação e seus professores. Pois, quando questionados sobre o que é Esquerda, marxismo, comunismo, entre outros discursos vomitados por eles em reprodução da fala de seu presidente, estas pessoas fazem o que o próprio presidente faz, tendo aprendido com seu guru Olavo de Carvalho, que é meramente se enfurecerem, xingando e agredindo o interlocutor para fugirem do debate. Enquanto isso, na contramão de seu discurso contra uma suposta doutrinação esquerdista, o próprio Governo Bolsonaro e seus mandatários criam uma leva de seguidores alienados e doutrinados sem nenhum pensamento crítico e reflexivo, e comumente sem nenhum escrúpulo. Todavia, felizmente e a bem da verdade, vemos muitas pessoas, conscientes do erro, se manifestando contra o presidente e seu Governo, pois compreenderam a incoerência de seus discursos e ações contra a sociedade e o mal que estão causando ao Brasil (de repercussão internacional, inclusive).

Eu gostaria, também, de questionar: entre as classes sociais, qual aquela que prega esta luta contra a Educação e os professores? Seriam as camadas pobres e sem oportunidade, ou aqueles que tiveram oportunidade de estarem dentro das escolas, que saíram das mesmas sem conseguirem o que queriam e se frustraram? Seria o pobre que luta diariamente por dias melhores e melhores condições de vida, ou aquele que simplesmente ignora a existência alheia e se, frustrado consigo mesmo, prega o ódio contra a Educação e a sociedade na qual não consegue se inserir?

Ainda sobre a Educação, o combate às Universidades e Sistemas de Ensino por parte do Governo Bolsonaro e o ministro Weintraub se dão por claros e expostos motivos ideológicos: alunos fazem uma manifestação contra o Governo ou parte dele, e são sumariamente censurados e sua universidade, de imediato, recebe uma punição de corte de verba. Foi o que houve com as universidades de Santa Maria, da Bahia e do Paraná, que receberam corte de 30% em seu orçamento (por motivos ideológicos do Governo). Após as repercussões negativas, para não confessar sua perseguição ideológica, Bolsonaro/Weintraub resolve cortar 30% de todas as universidades e instituições de ensino superior, com a desculpa esfarrapada de que, palavras de Weintraub “pelo preço de 1 aluno da universidade, eu ponho 10 crianças na creche”; sendo essa desculpa uma tradição de quem quer cortar gastos nas IES (Instituições de Ensino Superior). Os eleitores e alienados do presidente aplaudiram, condenando ainda mais as áreas de Humanas das universidades, repetindo, ruminantemente, que as áreas de Sociologia e Filosofia (idem História) não são necessárias, pois se tem que investir no Ensino Básico. Porém, vejamos os cortes do Governo Bolsonaro para este ano (que já estão sendo feitos):



Cortes* na Educação:


39% de corte do orçamento para Educação Básica;

34% de corte do orçamento para Institutos Federais (que tomam conta, também, da Educação Básica e Ensino Médio);

25% de corte do orçamento para Universidades Federais;

20% de corte do orçamento para o FIES;

12% de corte do orçamento para os Hospitais Universitários (que atendem a população pobre, incluindo atendimentos odontológicos, tratamentos para quem não possui plano de saúde, hospitais veterinários etc.);

13% de corte do orçamento para a CAPES;

*Para fontes, basta fazer uma pesquisa na Internet sobre Corte Orçamentário na Educação. Você encontrará inúmeras cartas/notas de universidades que sofreram cortes, além de fontes do próprio Governo quanto aos cortes na Educação, Defesa, Transportes etc.



Notou que o maior corte faz parte, exatamente, da Educação Básica? Os cortes nas outras áreas também são devastadores para cada uma delas (pois já são reduzidos), mas vê-se que a desculpa de Bolsonaro/Weintraub em cortar do Ensino Superior para investir no Ensino Básico é tão somente uma grande mentira. Mesmo assim (e sem informação e com muita preguiça cega) os ruminantes aplaudem.

Mas, voltemos à questão do desrespeito e desmoralização sistemática do Governo Bolsonaro para com os professores.

Nas escolas públicas existe um clima de “descontrole” (não em todas as escolas) sobre os alunos. Um descontrole, porém, natural, e que segue as transformações também naturais da sociedade. O comportamento externo dos alunos se reflete no ambiente interno das instituições de ensino. Me refiro às escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio (mas não somente). Quem leciona em escolas públicas sabe quais são os dilemas diários, os conflitos entre alunos, professores, coordenadores, gestores, diretorias de ensino e secretarias. Existem lutas diárias entre todos os “poderes” dentro de uma escola, e também muita (muita mesmo) autocensura por parte de todos, que têm receio de, simplesmente, conversar sobre assuntos políticos, mesmo que afetem a realidade de seu trabalho e a vida de seus alunos. Muitos professores se omitem e/ou se escondem de discussões mais aprofundadas dentro das salas de professores, com receio de gerarem um clima ruim ou simplesmente por não conhecerem o que está acontecendo fora dos muros da escola ou das paredes de suas casas. Ao contrário do que imagina, muito fantasiosamente, o Governo Bolsonaro, não existe um discurso unificado entre docentes. Pois, se existisse, a realidade política atual seria outra. Infelizmente, os professores de maneira geral não se reconhecem e não se assumem enquanto classe trabalhadora, não percebem que fazem parte do proletariado (mesmo de maneira intelectualizada), e muitos dão as costas às suas responsabilidades enquanto professores e professoras. Mas este também é um problema social, assim como dos alunos e pais, pois até mesmo os professores se sentem desgastados com o dia a dia estafante das aulas, muitos deles cumprindo três turnos de trabalho, lidando com alunos desrespeitosos, entre outros, em ambientes insalubres (tendo que se revezar entre trabalho, estudos, casa etc., como todo profissional). É de se compreender, então, que muitos professores não tenham mais tanta disposição para lutar por seus direitos e pela própria identidade enquanto professores, reproduzindo também alguns discursos contra si próprios de forma alienada.

Muitos alunos e pais também deixaram de reconhecer os professores como trabalhadores de grande importância social, além da própria importância educativa. E este é um processo de desvalorização não somente dos professores e da Escola, mas referente às instituições como um todo, que perdem o respeito da sociedade que não mais as reconhecem como importantes: seja a Escola, as Famílias, as Igrejas, a Política, a Cultura, o Esporte etc. (todos enquanto instituição).

É natural, então, que existam conflitos diários e insatisfações quanto à Educação, interna e externamente. Entretanto, não podemos, enquanto sociedade, indivíduos, alunos e professores, permitir que um Governo institucionalize o desrespeito para com os professores e a Educação. É extremamente perigoso que o Governo torne legítimo, pois parte dele, os ataques e perseguições aos professores. Fazendo isso, difamando cotidianamente os profissionais da Educação, Bolsonaro cria nada mais que um abismo na sociedade: de um lado, pessoas que se importam com a Educação e lutam por uma sociedade melhor independentemente de fatores partidários, e de outro, pessoas que reproduzem discursos rasos de ódio contra os professores (e que ganham cada vez mais espaço, por sua boçalidade). Eu gostaria, porém, de convidar todos estes que discursam contra os professores a passarem três dias lecionando e conhecerem a realidade das escolas. Tenho certeza de que não dariam conta de, sequer, realizarem a chamada.

É extremamente necessária a reanálise quanto ao que é um(a) Professor(a), qual sua significação, sua importância – principalmente na atualidade –, e esta reanálise também individual por parte dos próprios professores, para que voltem a se valorizar enquanto classe trabalhadora e para que tenham forças para mostrar seu valor à sociedade. É preciso que as escolas voltem a se tornar ambientes de discussão sobre assuntos sociais, que envolvem, obviamente, a Política, pois as escolas são o grande ambiente pelo o qual passa toda a sociedade; é um grande ambiente canalizador que precisa ser utilizado para transformar, e não apenas reproduzir conteúdos vindos do topo (topo esse que pretende implodir a Educação).

Concluindo, assim como não se pode permitir um Governo racista, homofóbico, sexista, religioso, não se pode, igualmente, permitir que este mesmo Governo institucionalize o preconceito contra os professores e a própria Educação. O sucateamento da Educação por parte do Governo pretende duas coisas: impedir a sociedade de buscar conhecimento e, principalmente, destruir o Sistema Público para vender os heróis da privatização e/ou militarização das Escolas. É preciso lutar pela valorização da Educação e dos profissionais da Educação, dos gestores aos professores, passando pela faxineira à merendeira chegando aos alunos e à sociedade como um todo.

Enquanto isso, ruminantes alienados criam calos nas mãos aplaudindo a destruição da sociedade como se todos eles fossem grandes investidores da bolsa de valores, olhando para os seus pratos de galinha assada e copos de sidra com a ilusão de comerem faisão regados à champagne.



Prof. Marco Buzetto | 04 de maio de 2019
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