Conversando com pessoas que
trabalham em diferentes áreas, desde comércio, lojas, indústrias, educação,
etc., muitos falam sobre melhores qualidades de oferta de emprego, melhores condições
de trabalho e até mesmo melhores ambientes
sociais de trabalho, como, por exemplo, trabalhar com gente mais capacitada,
mais disposta.
Este é parte do discurso que
muitos, diretores, encarregados, gerentes e chefes de empresas também possuem e
gostam de falar. Desejar trabalhadores que possuam iniciativa, que sejam
motivados, engajados a desempenhar seu papel com qualidade, competência e responsabilidades
adequadas, e que saibam, inclusive, se adaptar e conviver em ambientes de
trabalho com diferentes tipos de colegas de trabalho. Até aí, tudo ótimo. Inteligente
o chefe que pense assim, e, feliz da pessoa que possua estas habilidades e
consiga a vaga.
E é bem este o foco deste artigo:
a vaga.
Desde que o mundo é mundo,
ouvimos dizer e aprendemos que “quanto maiores suas habilidades e
conhecimentos, quanto melhor seu currículo e suas capacidades, maiores serão
suas chances de conseguir um emprego de qualidade”. Realmente, isso é verdade.
Mas, e quando se currículo
assusta os demais? Isso acontece? Sim, acontece. E por mais que não seja uma
ação pensada pela empresa, é muito comum acontecer, pois, seu currículo passa
pela avaliação de um departamento de Recursos Humanos, que é responsável por
sua análise e potencial contratação, visando vagas específicas onde seu
currículo seria mais bem aplicado.
Isso quer dizer que um currículo
muito bom pode não ser contratado?
Infelizmente, sim. Pelo menos é o
que podemos ver em algumas conversas. Foi-se o tempo em que um amigo, conhecido
ou alguém do meio poderia fazer o favor de entregar um currículo seu ao RH ou
ao supervisor de alguma empresa. Mas, hoje esta pessoa pensa várias vezes antes
de fazer isso, pois, ela mesma avalia seu currículo. E, caso seja melhor que o
dele próprio, sinto muito, mas, vai para o lixo da cozinha.
O mesmo ocorre com funcionários
dos próprios departamentos de recursos humanos, secretários, diretores,
supervisores, etc. Se seu currículo é bom o suficiente para fazer o cidadão
pensar que você seja uma possível ameaça à vaga que ele mesmo preenche, então,
certamente você não será contratado. Pois, sei currículo não chegou, sequer, a
fazer parte da reserva de contratação.
Eu, pessoalmente, perguntei a uma
pessoa se ela poderia fazer este favor, de levar um currículo meu para a
empresa na qual ele trabalhava. A resposta foi certeira, nem precisou pensar
pra falar: não. E disse: “e correr o risco de perder meu emprego pra você”? O
interessante é que são áreas de atuação totalmente diferentes. Mas, e o medo,
não é verdade?
Ter um curso diferente, um
componente curricular um pouco melhor e atualizada, iniciativa e por aí vai,
podem ser motivos suficientes para alguém ter medo de perder o emprego caso seu
currículo seja apresentado, mesmo que não sejam áreas semelhantes.
Este medo não tem nada a ver com
crise, com desemprego, com instabilidades econômicas. Na verdade, é parte de um
egoísmo totalmente impensado e sem fundamento, que faz com que a pessoa não
queira correr o risco e pronto; não interessa. “Não vou levar seu currículo,
mas também não farei nada para melhorar a qualidade do meu trabalho”. É
praticamente assim o pensamento. O cidadão não trabalha suas próprias
capacidades, pois está estagnado, conformado com o que tem, e não corre atrás de
novas especializações, novos estudos. E quando aparece alguém que não parou no
tempo ou possui uma ou outra habilidade diferente, automaticamente vira
concorrente e inimigo. E isso não se aplica só a funcionários de baixo escalão,
não. Se estende para todos os níveis.
O funcionário, então, possui a
ilusão de ser dono da empresa, a ponto de estabelecer seus próprios critérios
para julgar e decidir se um candidato será ou não avaliado. Mas, este mesmo
funcionário que acredita ter esse poder não move uma agulha para melhorar a si
mesmo e oferecer maiores e melhores habilidades ao mercado de trabalho. Tem-se,
então, uma empresa cheia de funcionários “meia-boca”, que simplesmente executam
suas funções sem fazer questão de evoluir e se qualificarem. Então, saiba que “aqui
você não entra, e pronto”.
Tudo isso nos obriga a “caçar” a
pessoa certa para entregar em mãos nosso currículo, e ter (ainda) 50% de chance
de que o documento seja lido. É praticamente uma brincadeira de esconde-esconde
atrás de uma vaga que a empresa quer preencher, mas, que os funcionários não
querem que seja preenchida, pois, “se eu não posso você também não pode”.
Concluindo.
Não seria muito melhor o
contrário? Ter como colegas de trabalho pessoas que possam contribuir de
verdade para melhorar o ambiente e a qualidade das funções, não tornaria o dia
a dia melhor dentro da empresa? Quem deve avaliar as capacidades de um
indivíduo são pessoas realmente interessadas na qualidade do currículo para
preencher a vaga, e não pessoas egoístas e mesquinhas que veem todos os outros
como concorrentes diretos.
Talvez esta seja apenas uma
análise superficial baseada em sensações de que isso realmente acontece. Pode
ser que não. Mas, seja sincero: você já não teve essa impressão?