20/10/2015

Medo, egoísmo e concorrência no mercado de trabalho




Conversando com pessoas que trabalham em diferentes áreas, desde comércio, lojas, indústrias, educação, etc., muitos falam sobre melhores qualidades de oferta de emprego, melhores condições de trabalho e até mesmo melhores ambientes sociais de trabalho, como, por exemplo, trabalhar com gente mais capacitada, mais disposta.

Este é parte do discurso que muitos, diretores, encarregados, gerentes e chefes de empresas também possuem e gostam de falar. Desejar trabalhadores que possuam iniciativa, que sejam motivados, engajados a desempenhar seu papel com qualidade, competência e responsabilidades adequadas, e que saibam, inclusive, se adaptar e conviver em ambientes de trabalho com diferentes tipos de colegas de trabalho. Até aí, tudo ótimo. Inteligente o chefe que pense assim, e, feliz da pessoa que possua estas habilidades e consiga a vaga.

E é bem este o foco deste artigo: a vaga.
Desde que o mundo é mundo, ouvimos dizer e aprendemos que “quanto maiores suas habilidades e conhecimentos, quanto melhor seu currículo e suas capacidades, maiores serão suas chances de conseguir um emprego de qualidade”. Realmente, isso é verdade.
Mas, e quando se currículo assusta os demais? Isso acontece? Sim, acontece. E por mais que não seja uma ação pensada pela empresa, é muito comum acontecer, pois, seu currículo passa pela avaliação de um departamento de Recursos Humanos, que é responsável por sua análise e potencial contratação, visando vagas específicas onde seu currículo seria mais bem aplicado.

Isso quer dizer que um currículo muito bom pode não ser contratado?
Infelizmente, sim. Pelo menos é o que podemos ver em algumas conversas. Foi-se o tempo em que um amigo, conhecido ou alguém do meio poderia fazer o favor de entregar um currículo seu ao RH ou ao supervisor de alguma empresa. Mas, hoje esta pessoa pensa várias vezes antes de fazer isso, pois, ela mesma avalia seu currículo. E, caso seja melhor que o dele próprio, sinto muito, mas, vai para o lixo da cozinha.

O mesmo ocorre com funcionários dos próprios departamentos de recursos humanos, secretários, diretores, supervisores, etc. Se seu currículo é bom o suficiente para fazer o cidadão pensar que você seja uma possível ameaça à vaga que ele mesmo preenche, então, certamente você não será contratado. Pois, sei currículo não chegou, sequer, a fazer parte da reserva de contratação.


Eu, pessoalmente, perguntei a uma pessoa se ela poderia fazer este favor, de levar um currículo meu para a empresa na qual ele trabalhava. A resposta foi certeira, nem precisou pensar pra falar: não. E disse: “e correr o risco de perder meu emprego pra você”? O interessante é que são áreas de atuação totalmente diferentes. Mas, e o medo, não é verdade?

Ter um curso diferente, um componente curricular um pouco melhor e atualizada, iniciativa e por aí vai, podem ser motivos suficientes para alguém ter medo de perder o emprego caso seu currículo seja apresentado, mesmo que não sejam áreas semelhantes.

Este medo não tem nada a ver com crise, com desemprego, com instabilidades econômicas. Na verdade, é parte de um egoísmo totalmente impensado e sem fundamento, que faz com que a pessoa não queira correr o risco e pronto; não interessa. “Não vou levar seu currículo, mas também não farei nada para melhorar a qualidade do meu trabalho”. É praticamente assim o pensamento. O cidadão não trabalha suas próprias capacidades, pois está estagnado, conformado com o que tem, e não corre atrás de novas especializações, novos estudos. E quando aparece alguém que não parou no tempo ou possui uma ou outra habilidade diferente, automaticamente vira concorrente e inimigo. E isso não se aplica só a funcionários de baixo escalão, não. Se estende para todos os níveis.

O funcionário, então, possui a ilusão de ser dono da empresa, a ponto de estabelecer seus próprios critérios para julgar e decidir se um candidato será ou não avaliado. Mas, este mesmo funcionário que acredita ter esse poder não move uma agulha para melhorar a si mesmo e oferecer maiores e melhores habilidades ao mercado de trabalho. Tem-se, então, uma empresa cheia de funcionários “meia-boca”, que simplesmente executam suas funções sem fazer questão de evoluir e se qualificarem. Então, saiba que “aqui você não entra, e pronto”.

Tudo isso nos obriga a “caçar” a pessoa certa para entregar em mãos nosso currículo, e ter (ainda) 50% de chance de que o documento seja lido. É praticamente uma brincadeira de esconde-esconde atrás de uma vaga que a empresa quer preencher, mas, que os funcionários não querem que seja preenchida, pois, “se eu não posso você também não pode”.

Concluindo.
Não seria muito melhor o contrário? Ter como colegas de trabalho pessoas que possam contribuir de verdade para melhorar o ambiente e a qualidade das funções, não tornaria o dia a dia melhor dentro da empresa? Quem deve avaliar as capacidades de um indivíduo são pessoas realmente interessadas na qualidade do currículo para preencher a vaga, e não pessoas egoístas e mesquinhas que veem todos os outros como concorrentes diretos.

Talvez esta seja apenas uma análise superficial baseada em sensações de que isso realmente acontece. Pode ser que não. Mas, seja sincero: você já não teve essa impressão?