Dizem que “informação nunca é demais”. Bom, de uns anos para cá, receio ter mudado essa minha concepção. Informação boa nunca é demais. Informações ruins são, no mínimo, dignas de reflexão sobre conhecê-las ou não.
Hoje somos bombardeados de
informações por toda parte: boas, ruins, positivas, negativas, necessárias e
desnecessárias. O tempo todo. Às vezes, não temos tempo sequer de
compreendê-las. Mas, estão lá, fazendo parte do cotidiano, inflando o
subconsciente na hora de dormir, único momento de reflexão do dia, momento no
qual o cérebro tentará, desesperadamente, assimilar tudo o que aconteceu
durante o dia, nos últimos dias.
Dia destes, me mostraram um vídeo
de um homem sendo decapitado. Pensei: “Bom, para mim não é novidade”. E depois
pensei: “Mas também não posso achar a coisa mais normal do mundo”. E realmente
não é. Mas, acontece muito. E o fato de acontecer, sim, é chocante. Muitas
vezes só nos damos conta do que estamos vendo depois de ver, saber, ouvir,
“sentir”.
Realmente não fiquei chocado com
o vídeo. Fiquei chocado com minha frieza ao vê-lo, tanta quanto do carrasco que
realizava a decapitação com um facão. Como aplicar uma injeção em si mesmo: você
vê fazendo, praticamente sente fazendo; e quando tenta fazer em si mesmo – a
injeção, é claro –, sente todos os tecidos do corpo sendo rasgados lentamente.
Enfim, quando terminei de ver o
vídeo da tal decapitação, pensei: “Afinal, por que eu me prestei em isso”? E é
bem por aí que quero continuar esse artigo.
Afinal, podemos, sim, escolher
receber uma informação. Podemos dizer “não”. Claro que podemos. “Não quero ver
isso ou aquilo. Não quero saber disso ou daquilo”.
Você entra no Facebook e agora vê
dezenas de vídeos ao mesmo tempo em sua timeline sem precisar dar play. Lá para
a metade de um desses você pensa: “Pra que eu estou vendo isso”? Quando muito
no final. “Eu não quero ver vídeo de cachorro fingindo estar morto pra não
tomar banho”.
É como a tal “Deep Web”. Bom, ela
não é uma entidade, uma pessoa, um ser que vem nos atormentar e oferecer
produtos. Você vai até ela. Não é um espaço alternativo ou um local específico.
É apenas o “lixo”, o que ficou de lado, tão isolado que ninguém (que se preze)
seu atenção. Por exemplo: aquele universo gore que víamos apenas em capas de
disco muito aquém do underground, cheias de sangue e desenhos bizarros... Bom,
na internet isso se torna realidade, e você pode encontrar absolutamente tudo o
que quiser de mais bizarro (pejorativamente falando). De órgãos e crianças no
mercado negro, até bonecas humanas mutiladas que servem de brinquedos sexuais.
Se a imagem de uma mulher sem braços e pernas surgiu em sua mente, que alguém
compra para transar, sendo alimentada por sondas, saiba que é exatamente isso.
Alguém “fabrica” essa boneca, decepa os membros de uma
mulher/adolescente/criança, arranca as cordas vocais e vende como objeto
sexual. Isso quer dizer que alguém compra, existe uma procura bizarra e
assustadora por este tipo de perversão (humana) sexual.
Mas, não é o fato que critico aqui, a existência em si. E sim, a busca pela informação. Curiosidade? Talvez. Mas, por quê? Para que, sinceramente, eu quero saber, ver esse tipo de coisa na tela do meu computador, na TV, celular ou qualquer lugar?
Assim como fotos de cadáveres,
canibais, zoofilia, pedofilia, necrofilia... Todas as informações estão lá,
seja lá onde for, mas estão. Tudo isso existe, é verdade. Mas, se você não é um
psicopata, um maníaco sexual, uma pessoa “normal” que gosta de perversões
insanas de um imaginário violento psicossexual, por que buscar este tipo de
conteúdo? Para ter pesadelos? Ver o mundo com mais frieza? Inovar o cardápio de
assuntos e comentários entre amigos?
Ouvi falar de algo assim. Sim, é
verdade. Posso dizer: “Dane-se! Não quero e não preciso saber disso ou
daquilo”.
Como quando recebemos um e-mail
dizendo que alguém tem fotos de nossos momentos íntimos, você acessa o e-mail e
enche o computador de vírus. É a mesma coisa com nossa mente: acessar
informações ruins é encher nossa mente de lixo, de escrotice.
Acredito que estamos perdendo a
noção, o mínimo controle sobre nós mesmos em relação ao que queremos, ao que
consideramos exagerado sobre qualquer coisa.
Ontem, ver alguém morto era
estranho. Depois, alguém tomando um tiro era mais do que chocante. Hoje,
decapitações e mutilações fazem parte do cotidiano quando queremos. Nada mais
tem graça se ninguém se machucar de verdade, se não sangrar, doer.
Tudo bem, não podemos fazer (de
imediato) com que as pessoas parem de criar este tipo de conteúdo, de fazer
coisas assim. Mas, podemos filtrar estas informações. Podemos dizer “não, eu
não quero ver isso”.
Como quando passa um programa na
TV ou um comercial que você não gosta, e instintiva e instantaneamente a gente
troca de canal, sabe? Pois é, é assim mesmo. Conteúdo ruim chegando? “Não,
obrigado”. Quero influências positivas. Não quero sentar a mesa ou conviver com pessoas que tem um vocabulário com 80% de palavrões constantes em cada frase, que não sabem conversar sem xingar para serem engraçados. Ninguém mais sabe conversar? Isso é mesmo necessário?
Outro exemplo prático de
“informação demais” são matérias jornalísticas sobre assaltos, roubos,
invasões, etc., e assassinatos com entrevista do assassino que praticamente
viram uma entrevista autoexplicativa do ocorrido, um manual de instruções.
Imagino: “Quantas pessoas devem estar assistindo isso neste momento e pensando
em fazer a mesma coisa”? Mas, essa é outra história.
Em resumo, talvez, deve estar
faltando um pouco de “noção” na vida das pessoas. Exagero exagerado, por mais
confuso ou redundante que pareça. Como disse acima, a brincadeira tem que
chegar ao extremo para ser engraçada hoje em dia. Parece que ninguém mais
considera algo desnecessário, perigoso, assustador. Isso alimenta ainda mais as
ações terríveis que o ser humano pode fazer em nome da autossatisfação, do
entretenimento de qualquer modo.
Realmente devo estar ficando
velho (desde sempre), mas não quero ver vídeos de velhinhas sendo assustadas,
namoradas(os) levando tapas enquanto dormem, garotos atirando com armas de
paintball em pessoas pela rua. Não acho e não quero achar engraçadas estas
coisas. Quando adolescente eu via parte deste universo gore, splatter, com
certo receio. Claro, achava interessante por conta da rebeldia da idade. Mas,
perigoso de certo modo. Ficava sabendo que em algum lugar uns gostavam de
enviar a mão inteira na vagina ou no ânus de mulheres (e homens), e achava isso
absurdo. Hoje qualquer um pode ver vídeos de asiáticos enviando polvos na
vagina de uma mulher, quebrando ovos dentro delas, retirando, fazendo uma
omelete e comendo com pedaços de fezes. Quanto mais o ser humano evolui, mais
formas de se tornar desumano ele encontra. Sinto uma imensa tristeza em saber
que coisas assim saíram do (estranho) imaginário do terror, do (muito além) do
sadismo e se tornam parte da realidade com cada dia mais força e naturalidade.
Sim, o ser humano é capaz de
realizar coisas horríveis quando quer, mesmo sem ser ameaçado, sem a menor
necessidade de sobrevivência, apenas por que quer, por que sente tesão pelo o
que está fazendo e alimentando sua psicopatia. Mas, não quero ver isso. Escolho
não querer. Quero ver coisas boas, positivas. Não quero sentir nojo, medo. Não
quero ver um cara de vinte e poucos anos dizendo ao vivo que mata e decapita
moradores de rua por que eles não pagam impostos e não colaboram com a
sociedade. Não quero ver crianças servindo ao mercado sexual, pessoas
mutiladas, animais sendo torturados. Não quero vasculhar a internet atrás de
fatos que me causam repulsa. E se já não causam mais, então há alguma coisa
muito errada comigo.
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