De repente você se vê com quase
trinta anos. Quase trinta. Olha para trás e dá de cara com um filme que passou
tão rápido que não dá pra entender nada. Tudo bem, você fez muita coisa legal
nesta (curta) vida. Mas, passou tudo tão depressa que a tendência a ficar tudo
ainda mais rápido te assusta. Daqui para o fim é um passo (depois do outro, e
do outro, mais rápido e rápido).
Estava pensando em todos os
empregos que tive. Dos mais variados. Às vezes, um pior que o outro, um mais
chato e entediante que o anterior. Tudo bem, a grana pingava no fim do mês
(mas, é só sobre isso? Grana?). Fiz tanta coisa que nem me lembro mais. Quando
me perguntam, é como se eu perguntasse a mim mesmo: “o que eu já fiz na vida”?
Quase trinta, certo. Vida relativamente curta. Ok. Estilo “viva rápido e morra
jovem”. Ainda não chegou a hora, mas, sim, tudo passou muito rápido.
É quando chega aquele momento
estranho de pensar no futuro. Não que tenha faltado alguém para me dizer isso
enquanto mais novo. Acho que não dei ouvidos. Se dei, levei minhas vontades
mais a sério que às necessidades futuras.
Olhar para frente, para o futuro,
agora, é assustador. Pois, o futuro não está mais lá no futuro. Não. Está bem
ali, batendo na porta, daqui a seis meses. Rápido como um piscar de olhos. É
quando se pensa: “Preciso virar adulto agora”. É quando se pensa: “Chega! Quero
me casar, comprar uma casa, ter um emprego de verdade”. Penso muito assim nos
últimos meses: cortar o cabelo, voltar a trabalhar como uma pessoa normal, um
emprego normal, assalariado. Sem essa de sonhar e contar as moedinhas no fim do
dia para tomar um sorvete à noite.
Mas (mas), e aí? Apesar de ter
uma noção gigantesca de adaptação, seria feliz? A felicidade tem a ver com
isso? Talvez meu mal seja “pensar demais”, ponderar demais. Felizes os que
fazem por fazer e ponto final. Olhar para trás e pensar: “O que eu fiz da vida
até agora”? é assustador. Porém, mais assustar ainda é pensar: “O que eu farei
da vida de agora em diante”? Isso sim é assustador, pois, envolve muito mais
importância, muito mais seriedade e responsabilidades.
Sim, talvez seja isso: um emprego
com a menor responsabilidade possível que pague as contas no fim do mês. Estilo
Lester Burnham (Kevin Spacey no filme Beleza Americana na cena em que ele
consegue um emprego em uma loja de fastfood).
Alguma coisa simples, sem precisar pensar. Só prestar um serviço mecânico.
Talvez seja esse o segredo. Sem levar nada pra casa. Sair do trabalho, pensar:
“dane-se tudo isso”. Afinal, daqui a pouco todos nós viraremos adubo de
qualquer jeito. Pensar me faz pensar.
Mas, de verdade, preciso de um
emprego. Isso de escritor, professor sem carreira, “microempresário”... Não mais.
Medo, sim! Muito medo. Sim. O tempo todo. Acho que alguns, como eu, não
nasceram pra isso (isso de ficar parado, encostado, fazendo uma coisa só).
É viciante fazer várias coisas ao
mesmo tempo. Não sobra tempo pra nada e ao mesmo tempo sobra tempo pra tudo. Se
faz uma série de coisas hoje e amanhã pensa: “Certo, o que faço hoje, o que
farei amanhã”? Fazer de tudo um pouco não deixa margem para o futuro. Não sobra
nada, entende? Quase trinta e já fiz de tudo. Será que de agora em diante é só
tédio e conformidade ao som de Billy Idol?
Preciso de um emprego. Um emprego
descente, de verdade, que pague as contas no fim do mês e sobre algum para
fazer o clichê de pé de meia. Preciso de um emprego, mas não faço a menor ideia
em que área. Vontade de fazer tudo ao mesmo tempo como sempre. Ser tudo o que
eu posso o tempo todo. Mas, e aí? E o futuro? O futuro é agora? Pode ser. O que
fazer agora, então? Esse agora envolve o amanhã, o depois e o depois, ou é só
essa besteira poética de “seja feliz hoje”? Vai nessa. Pense assim. Continue
pensando assim, que o amanhã não existe e que o agora é que faz sentido. Amanhã
você irá reler esse texto, daqui a dez anos você irá reler esse texto e fará as
mesmas perguntas a si mesmo. Talvez até diga baixinho: “não é que ele tinha
razão”?
Não continue a vida fazendo
coisas que só existem dentro da sua cabeça. Faça algo por alguém. Dedique-se a
vida e compartilhe-a com a pessoa amada. Encontre um emprego, mesmo que seja
algo que você não gosta. Por mais que não pareça, a vida é longa e, de repente,
as coisas mudam. Amanhã você encontra coisa melhor. Ou melhor: amanhã você se
encontra.
Deve estar pensando: “escreveu
tanto para ser otimista no final”? Pois é, meu amig@. Esse é um dos mistérios
da vida: a contradição. A vida também é muito confusa, então, acostume-se em
tomar uma decisão hoje e mudar completamente os rumos da (sua) história amanhã.
Quem disse que a vida é justa e que tudo sai como o planejado? Além do mais,
quem disse que você tem que ser feliz para ser feliz?
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