Entrevista concedida ao Jornal Monte Alto elaborada
por Raphael Bertolli e Eliel Vieira. Agradeço
pelo interesse e parabenizo a equipe pela proposta. É sempre um prazer
colaborar com novas ideias.
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Entrevista com o escritor Marco Buzetto
Por Raphael Bertolli
04 de novembro de 2014 às 07h31
Marco Buzetto, natural de
Monte Alto, chega aos 28 anos com uma invejável lista de trabalhos já
publicados. Quando questionado sobre sua profissão, o escritor tem certa
dificuldade em classificar-se, haja vista a variedade de atividades
que exerce. Professor por formação, é nosso primeiro entrevistado.
Como e quando começou seu
trabalho como escritor? Há alguma lembrança do que possa ter iniciado em você
este interesse?
Minha primeira lembrança me
“dedicando” a produção literária de alguma forma está entre meus 13 a 14 anos.
Não posso dizer que me tornei escritor naquele momento. Mas foi ali que comecei
produzir textos, entre outros trabalhos, focados em literatura, com gosto e
vontade. Acredito que a maioria comece escrever com pequenos poemas e a velha e
lamentável poesia. Não foi diferente comigo. Sempre tive hábito de ler, mas,
gostava de textos filosóficos. Nunca me apeguei tanto à literatura pela própria
literatura.
O que te motiva a escrever? Tem
um local ou horário do dia em que sente-se mais disposto a criar?
Não sei dizer se existe uma
motivação específica. Acredito que eu escreva por saber escrever. Para mim é
tão natural quanto falar. Falo por que sei falar. Escrevo por saber escrever.
Não que eu o faça bem, mas… Enfim. Tenho certa criatividade e gosto de pô-la no
papel. No fim das contas, quem dirá que sou ou não um escritor são os leitores.
Sempre me senti mais disposto
escrevendo em casa durante a madrugada. Faço alguns esboços quando estou na
estrada, mas o bruto é feito em casa. Não tenho muita facilidade em dormir (se
bem que hoje durmo melhor). Mas, não tenho horário ou dia específico. Sem essa
de “esperar a inspiração”, mas, realmente faz diferença quando se escreve por
vontade, não por obrigação. O problema é que, às vezes, uma se choca com a
outra. E sai aquele trabalho que lemos depois e pensamos: “Será que foi eu
quem escreveu essa %&$#@. Que diabos eu estava pensando”? Isso me
acontece muito [risos].
Minha motivação foi a santíssima
trindade: “Sexo, Drogas e o velho e bom Rock ‘n’ Roll”. Brincadeira! “Rebeca – Alguns não pecam por
nada”, é um livro introspectivo. Quando comecei escrevê-lo, a proposta
seria um livro de filosofia. Mas, ao longo do contexto, não pude deixar de
transformá-lo em uma prosa, até mesmo para não ser tão cansativo ao leitor. Não
é um livro muito fácil de ler, confesso. Mas, também não é um bicho de sete
cabeças. Um pouco de atenção durante a leitura é fundamental. O interessante é
que cada leitor possui uma versão de como a leitura de “Rebeca…” foi positiva para
sua vida. Alguns dizem que o livro os ajudou com sua sexualidade, outros com a
crença em suas religiões, outros dizem que alguns capítulos os ajudaram com
relacionamentos tanto familiares quanto afetivos; superar dificuldades; medos,
angústias, lutos. Enfim, quem faz a leitura é mesmo o leitor. Não tenho como
dizer: “Leia assim”.
Porém, “Rebeca…” é um livro de
não-ficção. Muita coisa ali é real, sempre é. A personagem é contestadora nata,
alcoólatra e bissexual. Existem algumas cenas “fortes” no livro, porém, todas
servem para descrever questionamentos sobre a vida. Claro, se você fizer uma
leitura buscando algo, encontrará. Se fizer de outra maneira, com a mente um
pouco mais aberta e disposta, encontrará muito mais conteúdo, muito além do que
a capa sugere, por exemplo.
Quem tem apoiado seus trabalhos?
Tem mais apoio dentro ou fora da cidade?
90% do meu trabalho são bancados
por mim. Os outros 10% dedico a parceria inquestionável e extremamente
respeitável de amigos, em relação à produção de conteúdo publicitário,
diagramação, entre outras coisas. Existe muito trabalho colaborativo por trás
de tudo. Mas, em relação à monetização, os custos saem do meu bolso. Gosto
muito de trabalhar com profissionais locais, pois existem pessoas imensamente
geniais em Monte Alto, que pouco são reconhecidas (ora, vejam). Exemplo disso
temos o designer
Karlinhus Mozzambani e o fotógrafo Danilo de Paula.
Duas potências artísticas, em minha opinião. E não estou dando uma de “puxa
saco”, não. Mas temos que parar com aquele tal de “santo de casa não faz
milagre”, e começar valorizar (e valorar) mais as produções locais (em todos os
sentidos; desde a tiazinha boleira do bairro, ao músico, pintor, etc.). Além do
pessoal local, trabalho com pessoas do Brasil todo, principalmente da cidade de
São Paulo, onde se localiza minha atual editora, Copacabana
Books. Sempre tive total apoio em relação ao meu trabalho; desde hospedagem
por dias e dias, a reuniões e suporte editorial.
A visão de um “apoiador”
financeiro é muito bonita, romântica. Mas, na hora do vamos ver, a coisa muda
de figura. Todos gostam de dizer que “apoiam” a cultura (no meu caso, a cultura
literária), que é muito importante e tudo mais, mas, não pagam R$ 20,00 em um
livro (mas pagam o dobro em uma mesa de bar enquanto reclamam que o brasileiro
não tem cultura). Engraçado é que meus livros são vendidos ao dobro do valor em
sites e grandes cidades, e todos acham barato pagar R$ 40,00. Aqui, não, de
jeito nenhum.
Sempre procuro apoio e parceria
com empresários locais, grandes e pequenas empresas. Meus livros sempre possuem
trabalhos sociais por trás de cada produção: incentivo à leitura, palestras
educacionais, minicursos, etc. Quem sabe um dia alguém se interesse em apoiar
iniciativas assim. Estou sempre disposto a uma boa conversa.
Quanto ao mercado local?
Alguns questionam o fato de não
verem meus trabalhos pela cidade e não levam a sério quando apareço com um
livro novo. Mas, isso é reflexo do mercado. Realmente é pequeno. Não possuo
muitos leitores locais. Normalmente o público está fora da cidade, outros
Estados. É comum me pararem para conversar, elogiar ou criticar algum livro meu
quando estou a passeio. Quando alguém aqui ouve dizer que sou (também)
escritor, logo aparecem com aquela expressão: “Escritor”?
O que gosta de ler?
Gosto muito de literatura alemã,
russa, entre outras europeias. Esse pessoal todo possui muita bagagem cultural
e sabem passar para o papel o que realmente querem. Como disse antes, gosto
muito de literatura filosófica, que possua algum sentido além do que se lê.
Gosto muito de autores independentes. Temos ótimos escritores pela cidade e
região. É só ficar de olho aberto, pois sempre tem coisa boa.
A leitura já chegou a todos? Ou
quando acha que chegará?
A leitura em si, sim, está
presente por todo lado. Realmente existem regiões que carecem até mesmo disso:
livros de qualquer gênero. Mas, aí já é um assunto muito mais aprofundado
socialmente falando.
Assim como eu, conheço muitas
pessoas dedicadas a incentivar a leitura, desde organizações culturais a
pessoas físicas que possuem consciência da importância sociocultural do livro
no crescimento e enriquecimento das pessoas. Fazem um ótimo trabalho recolhendo
doações e disponibilizando a quem não tem oportunidade sequer de saber o que é
um livro.
Nosso nível de escritores tem
surpreendido? Ou os vocabulários de Web têm interferido na qualidade dos
livros?
Com certeza, sim. Existem
escritores excelentes (fora do mercado). Muitos autores independentes que sabem
e entendem do que estão fazendo. Infelizmente estes não chegarão às prateleiras
de grandes lojas. Mas, sim, existem e possuem seus leitores fiéis.
Quanto ao vocabulário, bom, a
língua portuguesa, assim como todas as outras, é mutável, passível de sofrer
alterações. Existem leitores que aceitam linguagens “modernas”, mais voltadas
para o estilo livre de escrita na internet, nos celulares e tudo mais. Porém,
acredito que a compreensão geral ainda esteja (e continuará) muito enraizada na
forma de escrita tradicional. Não que isso não possa mudar daqui a alguns
séculos.
Interferir diretamente na
qualidade dos livros eu acredito que não. Pois, “livro” é um termo muito
generalizado. Existe espaço para tudo e para todos. Sinceramente, vejo muitos
best-sellers que não mereciam estar nas prateleiras (sejamos francos).
O livro digital tem superado as
expectativas? Ou o livro impresso na cabeceira da cama nunca deixará de existir?
Os chamados e-books, e-pubs e
todos os “e”-livros por toda parte realmente estão tomando o mercado de
assalto. Mas, o livro convencional não deixará de existir (não pela simples
invasão de livros digitais). Existem muitas plataformas online ou downloads
para livros digitais. Eu mesmo, se não encontro o livro físico (por falta de
publicação ou coisa assim), apelo para a versão digital e leio no tablet. Mas,
prefiro o livro em si. É muito provável que a gurizada mais nova opte pela
tecnologia para leitura (se é que lerão alguma coisa em qualquer lugar). Assim
como o disco de vinil não deixou de existir com a chegada dos CDs, o livro
tradicional sumirá assim de uma hora para outra.
O que vem de novidade para 2015?
Pretendo publicar “Pink Silk Republic”
em 2015. Mas não existe data ainda. Talvez um ou outro “livro campanha”, como
vários que possuo. Porém, realmente, gostaria de realizar algumas parcerias
sobre estes trabalhos futuros, pois podemos alcançar muito mais gente e
incentivar ainda mais a cultura literária.
Faça suas considerações e
comentários.
Agradeço pela entrevista, claro.
Obrigado à equipe do Jornal Monte Alto e parabéns pelo portal.
Agradeço também, sempre, as
pessoas que leem, criticam e apoiam meu trabalho enquanto escritor. Vocês são
ótimos. Obrigado, de verdade. Obrigado também a todos que acreditam em mim, de
certa forma. Sei que é meio clichê, mas, é verdade: só tenho a agradecer a
todos.
No mais, não se esqueçam de serem
felizes sempre que possível.
Trabalhos já realizados (com ano
de publicação):
Oficiais:
“O Aquário de Sangue”, Letra
Boreal, 2010;
Publicações independentes:
“Amor e Morte” (peça), 2004;
“Amor e Morte” (livro), 2005;
“Ens Realissimum” (ensaio), 2005;
“Emetikós – Pobres Poemas”, 2005;
“Aóristos – Contos Curtos”, 2005;
“Aske”, 2006;
“Olhares Perdidos”, 2008;
“O Céu está em Chamas”, 2009;
“Diário da Loucura”, 2010;
“O Jardim de Letícia – Uma Garota
Chamada Sofrimento”, 2010;
“Caos” – Bem-vindo a sua morte”,
2011;
“Alguns não pecam por nada”,
(roteiro) 2013;
“A Selvageria do Silêncio”, 2013;
“Só as Mulheres Sangram”,
(ensaio) 2013;
“Quinze Noites com Lygia Fagundes
Telles, Clarice Lispector e Paulo Coelho”, 2013;
“Verecundia – Cinco Textos em
Oposição à Violência Contra as Mulheres”, 2013;
“O Drama da Religião”, (ensaio)
2013;
“Este não sou eu” (peça), 2014;
“Pink Silk Republic – Encha o
tanque e aumente o volume”, 2014/2015;
“Catarine Kiler” (ensaio),
2014/2015.
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