E continuamos
falando. Mesmo quando nos dão as costas. Mesmo quando o que dizemos é o melhor
para o momento. Mesmo que tenhamos certeza de que o que fazemos é o certo. Por
menor que seja a culpa. Por maior que seja a pena. Mesmo nos ignorando
completamente. E continuamos falando.
É assim daqui em diante. Foi assim
daqui há anos atrás. Ontem. Hoje. Amanhã. Perpetuação da negação. Continuidade
da indiferença. Aptidão à lágrima. Falta de noção da realidade. Escravização da
demência; da inoportunidade. Inflexibilidade da rejeição. É assim daqui em
diante.
O sim negado. O
sim ao contrário. O concordar fingido. A discordância ao concordar. Dizer sim
com o não na consciência. As lágrimas mentais desaguando bochechas abaixo.
Eloquência sagrada da posição contrária. Nec plus ultra. Non dominus. Non bis
in idem. O sim negado.
O inferno é
democrático. O céu é pra quem tem medo. O inferno; festeiro. O céu é sóbrio; obscuro.
O inferno. Apaziguador. O céu segrega. O inferno; quem quer. O céu; pra quem é
mandado. O inferno diz sim. O céu diz talvez. Acolhedor. Quente. Coletivo. O
céu cega; luminoso demais. O inferno sim é democrático.
A hipnose do
corpo sadio. Fechar os olhos e atirar-se da janela. Maquiado. Bem vestida. Bem
vinda, morte. Abrir os olhos e ver o rastro de sangue pingando por cima de si
mesmo, atrasado, pois o corpo caiu primeiro. Dizer. Fazer. Querer. Dar.
Arreganhar. Chupar com a boca de Madonna. A hipnose do corpo sadio.
Intelectual com
cara de safado. Falso dos olhos bicolores. Não é verde nem castanho. Nascido
irlandês, escocês, agora com cara de siciliano. Intelectual? Safado! Mentiroso.
Escroto. Virgem! Maldito. Desalmado. Não! Mentira novamente. Tem alma, mas não
tem coração. Intelectual com cara de safado.
Tem alma, mas
não tem coração. Tem ânimo, mas não tem pulsação. Tem mãos, mas não acaricia;
apenas desenha pensamentos em
papel. Tem alegria, mas não expressão. Tem felicidade, mas
não sorrisos. Tem lágrimas, mas não emoções. Tem orgasmos, mas não tem tesão.
Tem alma, mas não tem coração.
Tem dança, mas
não tem música. Tem amor, mas não tem musa. Tem ódio, mas não tem a quem. Tem
paredes, mas não tem vermelhidão. Tem útero, mas não tem mulher. Tem pênis, mas
não tem sexo. Tem sexo! Mas, não tem maldade. Tem gosto, mas não tem saudade.
Tem dança, mas não tem a música. Tem amor, mas não tem musa.
Tem mente, mas
não tem sanidade. É difícil, mas tem facilidade. Tem medo, mas não tem
afinidade. Tem culpa, mas não tem veracidade. Tem pés, mas não tem velocidade.
Tem esperma, mas não tem necessidade. Tem o que quis, mas não tem liberdade.
Tem mente, mas não tem sanidade.
O único
passatempo é o tempo passando no espelho. Rodeado de gente que morre aos
montes. Sem cumplicidade. A confiança ficou no passado. Sem saudosismo; apenas
sinceridade de quem pulou do abismo para dentro da própria cabeça. O único
passatempo é o tempo passando no espelho.
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