A obra Além do Bem e do Mal,
escrita pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche,
surgiu praticamente junto com o processo de criação de “Assim Falou
Zaratustra”, a partir das meditações do autor ao longo desta gestação. Pode-se afirmar que este ensaio marca uma radical
mudança na sua visão de mundo, que se torna mais negativa e corrosiva.
Esta intrincada trama evoluiu
para um tom contundente, cerrado, mais propenso aos julgamentos e censuras de
praticamente todas as concepções do século XIX, principalmente se ela for vista
de um ângulo comparativo, em relação aos trabalhos
que precedem sua chegada, tais como Humano, Demasiado Humano, Aurora e A Gaia
Ciência, expressos em uma linguagem de fácil digestão.
Embora vários pesquisadores
tentem elaborar as mais diversas teorias interpretativas sobre esta obra de
Nietzsche, é difícil penetrar completamente a densa névoa que paira sobre seu
texto, talvez propositalmente concebido em uma perspectiva hermética. Ela não
se enquadra nas correntes filosóficas e científicas então vigentes, pois cabe a
ela exatamente negar as crenças até então em vigor.
O filósofo alemão tem uma afeição
particular por este livro que, ao lado de Assim Falava Zaratustra, constitui
sua principal criação, englobando uma vasta gama temática. Sua etapa mais
circunspecta está toda resumida nesta obra, desde a análise da sede de poder e
tudo que deriva desta paixão, até sua teoria perspectivista, o julgamento
moral, a visão psicológica dos aspectos religiosos, a concepção de um ser mais sublime.
Além do Bem e do Mal é dividido
em nove seções. Nestas divisões o filósofo discorre sobre até que ponto a visão
pré-concebida da massa sobre a obra filosófica e erudita pode exercer influência
nestas atividades; sua concepção sobre a liberdade e a filosofia do futuro; a
qualidade essencial do homini religiosi e sua atuação na esfera científica; a
compreensão da moralidade vigente; o estudo do âmbito filosófico e científico
predominante neste contexto; uma análise da situação política do continente
europeu, que atravessava um período de acirradas disputas entre as nações mais
poderosas.
Friedrich Nietzsche
Nietzsche também censurava o
ponto de vista nacionalista e a prática do anti-semitismo, ponto polêmico de
sua teoria, pois muitos atribuem ao filósofo a gestação de idéias nazistas, mas
na verdade, apesar dele defender a supremacia de uma raça, esta deveria ser
composta por uma mistura entre os integrantes da nobreza que povoava a Europa e
membros da etnia judaica, que detinha um poder econômico cada vez maior.
Em sua obra principal o autor
igualmente desmente a famosa moral da aristocracia, seus matizes e sua posição
antagônica em relação ao Cristianismo, alvo de diversos textos do filósofo.
Este ensaio é concluído brilhantemente com um de seus mais tocantes poemas,
intitulado Das Altas Montanhas.
Em 1886, quando é lançada esta
obra, Nietzsche começa a gestação do livro que pretendia ser uma seqüência de
Além do Bem e do Mal, Genealogia da Moral, na qual ele aborda um dos pontos
mais delicados e contundentes de sua produção filosófica, a provável ‘morte’ do
Deus cristão.
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